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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Hoje é um dia bom pra se morrer...

Pensou repentinamente, sentindo a alma nos olhos...


Assuntou consigo mesmo na paz da varanda antiga...

Segredou com o silêncio que lhe fazia costado.



Hoje é um dia bom pra se morrer...



Ruminou quieto ao balanço da cadeira

Que lembrava o trote de um cavalo manso

Recorrendo o céu dalguma sesmaria.



Levantou, mirou o dia,

Que contava histórias de um tempo velho

No murmulhar da sanga, no bailar dos pássaros,

No beijar do vento sobre as casuarinas...

Matizou de sol as pálidas retinas

E assistiu a paz lhe comover.



Hoje é um dia bom pra se morrer...



Virou-se para a porta da morada,

Buscando o vulto da mulher amada

Que nem a morte lhe fez esquecer.



Mirou os frutos de uma vida bem passada...

Os retratos de família sobre a estante

E o sorriso da flor tão adorada

Que aos poucos inundou o seu semblante.



Estava ali a estância bem cuidada...

A tropilha de mouros na mangueira,

Mil cabeças de boi nas invernadas,

E um suspiro, lembrando a vez primeira

Que um filho chorou de madrugada.



A filha, moça, preparando o mate,

O filho, homem, sua cara e jeito...

Um sentimento de missão cumprida

Coroando uma vida em arremate.



Eram os sonhos, sim, eternizados

Junto à saudade de quem já partiu...

Deixando amor e uma cruz plantada

Feito dois braços acenando ao rio.



Hoje é um dia bom pra se morrer...



Fechou os olhos, num suspiro doce...



Já tem os filhos criados,

Não deve nada a ninguém...

E já provou, pela vida,

De tudo que a vida tem.



O cachorro, companheiro, de confiança,

Chega quieto e lambe a sua mão...

A alma singra mares de distância

Além do sol que incendeia a imensidão.

Sente as plumas dos anjos, revoando,

E uma canção divina ressoando

Na calmaria do seu coração.



Hoje é um dia bom pra se morrer...



Abriu então os olhos mansamente

E mirou, logo à sua frente,

Uma luz, que fez sua alma florescer...



Hoje é um dia bom pra se morrer,

Mas não é o dia ideal...

E saiu, puxando o neto num petiçote maceta...

Viver é bom, afinal!!!



Autoria: Carlos Omar Villela Gomes

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