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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Última canção do beco...



Beco que cantei num dístico

Cheio de elipses mentais,

Beco das minhas tristezas,

Das minhas perplexidades

(Mas também dos meus amores,

Dos meus beijos, dos meus sonhos),

Adeus para nunca mais!


Vão demolir esta casa.

Mas meu quarto vai ficar,

Não como forma imperfeita

Neste mundo de aparências:

Vai ficar na eternidade,

Com seus livros, com seus quadros,

Intacto, suspenso no ar!


Beco de sarças de fogo,

De paixões sem amanhãs,

Quanta luz mediterrânea

No esplendor da adolescência

Não recolheu nestas pedras

O orvalho das madrugadas,

A pureza das manhãs!


Beco das minhas tristezas.

Não me envergonhei de ti!

Foste rua de mulheres?

Todas são filhas de Deus!

Dantes foram carmelitas...

E eras só de pobres quando,

Pobre, vim morar aqui.


Lapa-Lapa do Desterro-,

Lapa que tanto pecais!

(Mas quando bate seis horas,

Na primeira voz dos sinos,

Como na voz que anunciava

A conceição de Maria,

Que graças angelicais!)


Nossa Senhora do Carmo,

De lá de cima do altar,

Pede esmolas para os pobres,

Para mulheres tão tristes,

Para mulheres tão negras,

Que vêm nas portas do templo

De noite se agasalhar.


Beco que nasceste à sombra

De paredes conventuais,

És como a vida, que é santa

Pesar de todas as quedas.

Por isso te amei constante

E canto para dizer-te

Adeus para nunca mais!...
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Manuel Bandeira...

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