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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poema dialético...


1


Todas as formas ainda se encontram em esboço,

Tudo vive em transformação:

Mas o universo marcha

Para a arquitetura perfeita.


Retiremos das árvores profanas

A vasta lira antiga:

Sua secreta música

Pertence ao ouvido e ao coração de todos.

Cada novo poeta que nasce

Acrescenta-lhe uma corda.


2


Uma vida iniciada há mil anos atrás

Pode ter seu complemento e plenitude

Numa outra vida que floresce agora.


Nada poderá se interromper

Sem quebrar a unidade do mundo.


Um germe foi criado no princípio

Para que se desdobre em planos múltiplos.

Nossos suspiros, nossos anseios, nossas dores

São gravados no campo do infinito

Pelo espírito sereníssimo que preside às gerações.


3


A muitos só lhes resta o inferno.

?Que lhes coube na monstruosa partilha da vida

Sente uma angústia sem nobreza, e a peste da alma.

Nunca ouviram a música nascer do farfalhar das árvores,

Nem assistiram à contínua anunciação

E ao contínuo parto das belas formas.

Nunca puderam ver a noite chegar sem elementos de terror,

Caminham conduzindo o castigo e a sombra de seus atos,

Comeram o pó e beberam o próprio suor,

Não se banharam no regato livre.

Entretanto, a transfiguração precede a morte.

Cada um deve assumi-la em carne e espírito

Para que a alegria seja completa e definitiva.


4


É preciso conhecer seu próprio abismo

E polir sempre o candelabro que o esclarece.


Tudo no universo marcha, e marcha para esperar:

Nossa existência é uma vasta expectação

Onde se tocam o princípio e o fim.

A terra terá que ser retalhada entre todos

E restituída em tempo à sua antiga harmonia.

Tudo marcha para a arquitetura perfeita:

A aurora é coletiva...
.
.
.
Murilo Mendes...

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