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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O sono das águas...


Há uma hora certa,

no meio da noite, uma hora morta,

em que a água dorme.


Todas as águas dormem:

no rio, na lagoa,

no açude, no brejão, nos olhos d’água,

nos grotões fundos

E quem ficar acordado,

na barranca, a noite inteira,

há de ouvir a cachoeira

parar a queda e o choro,

que a água foi dormir…


Águas claras, barrentas, sonolentas,

todas vão cochilar.

Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,

fios brancos, torrentes.

O orvalho sonha

nas placas da folhagem

e adormece.

Até a água fervida,

nos copos de cabeceira dos agonizantes…


Mas nem todas dormem, nessa hora

de torpor líquido e inocente.

Muitos hão de estar vigiando,

e chorando, a noite toda,

porque a água dos olhos

nunca tem sono…
.
.
.
Guimarães Rosa...

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