Pesquisar este blog

Meus Vídeos...

sábado, 15 de setembro de 2012

Como a morte se infiltra...


Certo dia, não se levanta

porque quer demorar na cama.


No outro dia ele diz por que:

é porque lhe dói algum pé.


No outro dia o que dói é a perna,

E nem pode apoiar-se nela.


Dia a dia lhe cresce um não,

um enrodilhar-se de cão.


Dia a dia ele aprende o jeito

em que menos lhe pesa o leito.


Um dia faz fechar as janelas:

dói-lhe o dia lá fora delas.


Há um dia em que não se levanta:

deixa-o para a outra semana,


Outra semana sempre adiada,

que ele não vê por que apressá-la.


Um dia passou vinte e quatro horas

incurioso do que é de fora.


Outro dia já não distinguiu

noite e dia, tudo é vazio.


Um dia, pensou: respirar,

eis um esforço que se evitar.


Quem deixou-o, a respiração ?

Muda de cama. Eis seu caixão...
.
.
.
João Cabral de Melo Neto...

Nenhum comentário:

Postar um comentário