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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aurora...


O poeta ia bêbado no bonde.

O dia nascia atrás dos quintais.

As pensões alegres dormiam tristíssimas.

As casas também iam bêbadas.


Tudo era irreparável.

Ninguém sabia que o mundo ia acabar

(apenas uma criança percebeu mas ficou calada)

Que o mundo ia acabar às 7 e 45.

Últimos pensamentos! últimos telegramas!

José, que colocava pronomes,

Helena, que amava os homens,

Sebastião, que se arruinava,

Artur, que não dizia nada,

embarcam para a eternidade.


O poeta está bêbado, mas

escuta um apelo na aurora:

Vamos todos dançar

entre o bonde e a árvore?


Entre o bonde e a árvore

dançai, meus irmãos!

Embora sem música

dançai, meus irmãos!

Os filhos estão nascendo

com tamanha espontaneidade.

Como é maravilhoso o amor

(o amor e outros produtos).

Dançai meus irmãos!

A morte virá depois

como um sacramento...
.
.
.
Carlos Drummond de Andrade...

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