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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Álcool...


Guilhotinas, pelouros e castelos

Resvalam longemente em procissão;

Volteiam-me crepúsculos amarelos,

Mordidos, doentios de roxidão.


Batem asas de auréola aos meus ouvidos,

Grifam-me sons de cor e de perfumes,

Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,

Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.


Respiro-me no ar que ao longe vem,

Da luz que me ilumina participo;

Quero reunir-me, e todo me dissipo —

Luto, estrebucho… Em vão! Silvo pra além…


Corro em volta de mim sem me encontrar…

Tudo oscila e se abate como espuma…

Um disco de oiro surge a voltear…

Fecho os meus olhos com pavor da bruma…


Que droga foi a que me inoculei?

Ópio de inferno em vez de paraíso?…

Que sortilégio a mim próprio lancei?

Como é que em dor genial eu me eternizo?


Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,

Foi álcool mais raro e penetrante:

É só de mim que ando delirante —

Manhã tão forte que me anoiteceu...
.
.
Mário de Sá-Carneiro...

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