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domingo, 9 de setembro de 2012

A mulher na noite...


Eu fiquei imóvel e no escuro tu vieste.

A chuva batia nas vidraças e escorria nas calhas – vinhas andando e eu não te via

Contudo a volúpia entrou em mim e ulcerou a treva nos meus olhos.

Eu estava imóvel – tu caminhavas para mim como um pinheiro erguido

E de repente, não sei, me vi acorrentado no descampado, no meio de insetos

E as formigas me passeavam pelo corpo úmido.

Do teu corpo balouçante saíam cobras que se eriçavam sobre o meu peito

E muito ao longe me parecia ouvir uivos de lobas.

E então a aragem começou a descer e me arrepiou os nervos

E os insetos se ocultavam nos meus ouvidos e zunzunavam sobre os meus lábios.

Eu queria me levantar porque grandes reses me lambiam o rosto

E cabras cheirando forte urinavam sobre as minhas pernas.

Uma angústia de morte começou a se apossar do meu ser

As formigas iam e vinham, os insetos procriavam e zumbiam do meu desespero

E eu comecei a sufocar sob a rês que me lambia.

Nesse momento as cobras apertaram o meu pescoço

E a chuva despejou sobre mim torrentes amargas.


Eu me levantei e comecei a chegar, me parecia vir de longe

E não havia mais vida na minha frente...
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Vinicius de Moraes...

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