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domingo, 15 de julho de 2012

Os ombros suportam o mundo...



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.


Tempo de absoluta depuração.


Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.


E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,

mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.


És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?


Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.


As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertaram ainda.


Alguns, achando bárbaro o espetáculo

prefeririam (os delicados) morrer.


Chegou um tempo em que não adianta morrer.


Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.


A vida apenas, sem mistificação...
.
.
.
Carlos Drummond de Andrade...

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