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quinta-feira, 26 de julho de 2012

O poeta-operário...



Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!

O que? Versos? Pura bobagem".

Talvez ninguém como nós

ponha tanto coração

no trabalho.

Eu sou uma fábrica.

E se chaminés

me faltam

talvez seja preciso

ainda mais coragem.

Sei.

Frases vazias não agradam.

Quando serrais madeira

é para fazer lenha.

E nós que somos

senão entalhadores a esculpir

a tora da cabeça humana?

Certamente que a pesca é coisa respeitável.

Atira-se a rede e quem sabe?

Pega-se um esturjão!

Mas o trabalho do poeta

é muito mais difícil.

Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos altos-fornos

onde se tempera o ferro em brasa.

Mas pode alguém

acusar-nos de ociosos?

Nós polimos as almas

com a lixa do verso.

Quem vale mais:

o poeta ou o técnico

que produz comodidades?

Ambos!

Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz.

Somos iguais.

Camaradas dentro da massa operária.

Proletários do corpo e do espírito.

Somente unidos,

somente juntos remoçaremos o mundo,

fá-lo-emos marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras

levantemos um dique!

Mãos à obra!

O trabalho é vivo e novo!

Com os oradores vazios, fora!

Moinho com eles!

Com a água de seus discursos

que façam mover-se a mó!...
.
.
.
Vladimir Mayakovsky...

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