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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Lépida e leve...



Lépida e leve

em teu labor que, de expressões à míngua,

O verso não descreve...

Lépida e leve,

guardas, ó língua, em teu labor,

gostos de afago e afagos de sabor.


És tão mansa e macia,

que teu nome a ti mesmo acaricia,

que teu nome por ti roça, flexuosamente,

como rítmica serpente,

e se faz menos rudo,

o vocábulo, ao teu contacto de veludo.


Dominadora do desejo humano,

estatuária da palavra,

ódio, paixão, mentira, desengano,

por ti que incêndio no Universo lavra!...

És o réptil que voa,

o divino pecado

que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,

e que a Terra povoa e despovoa,

quando é de seu agrado.


Sol dos ouvidos, sabiá do tato,

ó língua-idéia, ó língua-sensação,

em que olvido insensato,

em que tolo recato,

te hão deixado o louvor, a exaltação!


— Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!

— Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!

Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de

alucinação,

és o elástico da alma... Ó minha louca

língua, do meu Amor penetra a boca,

passa-lhe em todo senso tua mão,

enche-o de mim, deixa-me oca...

— Tenho certeza, minha louca,

de lhe dar a morder em ti meu coração!...


Língua do meu Amor velosa e doce,

que me convences de que sou frase,

que me contornas, que me veste quase,

como se o corpo meu de ti vindo me fosse.

Língua que me cativas, que me enleias

os surtos de ave estranha,

em linhas longas de invisíveis teias,

de que és, há tanto, habilidosa aranha...


Língua-lâmina, língua-labareda,

língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...

Força inféria e divina

faz com que o bem e o mal resumas,

língua-cáustica, língua-cocaína,

língua de mel, língua de plumas?...


Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,

amo-te como todas as mulheres

te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,

pela carne de som que à idéia emprestas

e pelas frases mudas que proferes

nos silêncios de Amor!...
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Gilka Machado...

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