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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Contemplação...



Não acuso. Nem perdôo.

Nada sei. De nada.

Contemplo.


Quando os homens apareceram

eu não estava presente.

Eu não estava presente,

quando a terra se desprendeu do sol.

Eu não estava presente,

quando o sol apareceu no céu.

E antes de haver o céu,

EU NÃO ESTAVA PRESENTE.


Como hei de acusar ou perdoar?

Nada sei.

Contemplo.


Parece que às vezes me falam.

Mas também não tenho certeza.

Quem me deseja ouvir, nestas paragens

onde somos todos estrangeiros?

Também não sei com segurança, muitas vezes,

da oferta que vai comigo, e em que resulta,

pois o mundo é mágico!

Tocou-se o Lírio e apareceu um Cavalo Selvagem.

E um anel no dedo pode fazer desabar da lua um temporal.


Já vês que me enterneço e me assusto,

entre as secretas maravilhas.

E não posso medir todos os ângulos do meu gesto.


Noites e noites, estudei devotamente

nossos mitos, e sua geometria.


Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,

eu era amor. Só isso encontro.

Caminho, navego, vôo,

- sempre amor.

Rio desviado, seta exilada, onda soprada ao contrário,

- mas semore o mesmo resultado: direção e êxtase.

À beira dos teus olhos,

por acaso detendo-me,

que acontecimentos serão produzidos

em mim e em ti?


Não há resposta.

Sabem-se os nascimentos

quando já foram sofridos.


Tão pouco somos, - e tanto causamos,

com tão longos ecos!

Nossas viagens têm cargas ocultas, de desconhecidos vínculos.


Entre o desejo do itinerário, uma lei que nos leva

age invisível e abriga

mais que o itinerário e o desejo.


Que te direi, se me interrogas?

As nuvens falam?

Não. As nuvens tocam-se, passam, desmancham-se.

Às vezes, pensa-se que demoram, parece que estão paradas...

Confundiram-se.


E até se julga que dentro delas andam estrelas e planetas.

Oh, aparência...Pode talvez andar um tonto pássaro perdido.

Voz sem pouso, no tempo surdo.


Não acuso nem perdôo.

Que faremos, errantes entre as invenções dos deuses?


Eu não estava presente, quando formaram

a voz tão frágil dos pássaros.


Quando as nuvens começaram a existir,

qual de nós estava presente?...
.
.
.
Cecília Meireles...

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