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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Confissão...



Não amei bastante meu semelhante,

não catei o verme nem curei a sarna.

Só proferi algumas palavras,

melodiosas, tarde, ao voltar da festa.


Dei sem dar e beijei sem beijo.

(Cego é talvez quem esconde os olhos

embaixo do catre.) E na meia-luz

tesouros fanam-se, os mais excelentes.


Do que restou, como compor um homem

e tudo o que ele implica de suave,

de concordâncias vegetais, múrmurios

de riso, entrega, amor e piedade?


Não amei bastante sequer a mim mesmo,

contudo próximo. Não amei ninguém.

Salvo aquele pássaro -vinha azul e doido-

que se esfacelou na asa do avião...
.
.
.
Carlos Drummond de Andrade...

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